Uber fatura bilhões enquanto motoristas são sufocados com tarifas miseráveis

Por: Lucas Carvalho   •   Publicado em: 28 de maio de 2025
Uber fatura bilhões enquanto motoristas são sufocados com tarifas miseráveisCrédito: Erik Mclean / Pexels

A Uber fatura bilhões ao redor do mundo, mas no Brasil essa riqueza vem às custas de motoristas cada vez mais sufocados por tarifas injustas.

A falsa promessa de liberdade financeira

A plataforma se vende como solução para o desemprego. Mas, na prática, oferece uma ilusão: a de autonomia e liberdade financeira.

No entanto, o que milhares de motoristas encontram é um sistema perverso. Um modelo de negócio que exige muito e devolve pouco.

Com promessas de ganhos rápidos, muitos entram no aplicativo acreditando que terão renda estável. Mas a realidade é outra.

A matemática que não fecha

As tarifas são cada vez mais baixas. Os custos com combustível, manutenção, seguro e financiamento do carro explodem.

Ao mesmo tempo, a Uber segue aumentando sua receita global. Em 2024, o faturamento anual ultrapassou os US$ 37 bilhões.

Apesar disso, motoristas brasileiros mal conseguem pagar suas contas. Estão presos em uma armadilha silenciosa de exploração.

A Uber se aproveita da crise econômica. Usa o desemprego como alavanca para impor condições cada vez piores.

Jornadas exaustivas e precarização

O discurso é sempre o mesmo: “O motorista trabalha quando quiser.” Mas a realidade é que muitos trabalham mais de 12 horas por dia.

Trabalham nos finais de semana, nos feriados. Tudo isso para conseguir pagar as contas básicas. Nada mais.

A Uber sufoca seus parceiros com um modelo que se sustenta pela precarização. Uma engrenagem que favorece a empresa e despreza o trabalhador.

Transparência questionável nos repasses

Recentemente, a empresa iniciou uma campanha afirmando que a maior parte do valor da corrida fica com o motorista.

Porém, relatos mostram outra realidade. Muitos motoristas conversam com passageiros e descobrem que a Uber cobra muito mais do que divulga.

Uma corrida que rendeu R$ 10 ao motorista, custou R$ 15 ou R$ 18 ao passageiro. Em alguns casos, mais de 50% do valor foi retido pela plataforma.

Essa disparidade entre o que é cobrado e o que é repassado levanta sérias dúvidas. A transparência da Uber está em xeque.

Por que uma empresa que fatura bilhões precisa operar com esse nível de opacidade? Por que manipula dados nos extratos?

O extrato semanal do motorista mostra o que ele ganhou, detalha supostos impostos e o percentual da Uber. Não há como confirmar a veracidade dos dados sem o contraponto da nota do passageiro.

O fato é que as tarifas estão cada vez mais baixas. Mal cobrem os custos de trabalho e de vida dos motoristas.

Já houve um período em que ser motorista de aplicativo era justo e valia a pena. Hoje, não mais.

Marketing milionário versus realidade nas ruas

Enquanto isso, continua promovendo sua marca com campanhas publicitárias milionárias. Gasta fortunas com marketing.

Mas não investe em melhores condições para os profissionais que mantêm a empresa viva. Que colocam seus carros e suas vidas nas ruas.

Essa lógica de sufocar a base e alimentar o topo é insustentável. Afeta a qualidade do serviço. Afeta a segurança.

Motoristas cansados, estressados e com veículos mal conservados oferecem riscos aos passageiros.

O barato acaba saindo caro. Para todos. Menos para a Uber que fatura bilhões e continua crescendo.

Movimentos de resistência

O movimento “Fique OFF”, surgido no Rio Grande do Sul, tenta combater essa situação. É uma forma de protesto silencioso.

Motoristas aceitam uma corrida e depois ficam offline até concluí-la. Isso reduz a oferta de carros e faz o sistema disparar tarifas dinâmicas.

É uma forma inteligente de pressionar a empresa sem deixar de trabalhar. E sem depender da adesão total, como nas greves.

É também um grito coletivo de revolta. Uma resposta criativa à exploração constante. Uma tentativa de reequilibrar o jogo.

A urgência por mudanças

A Uber precisa ser responsabilizada. Precisa rever seu modelo de negócio. Não é aceitável lucrar bilhões sufocando os profissionais da base.

Os motoristas não são descartáveis. São pessoas com famílias, com sonhos, com contas para pagar.

É hora de parar de fingir que está tudo bem. De parar de normalizar jornadas abusivas em nome da “liberdade de trabalhar quando quiser”.

Liberdade sem condições dignas é escravidão disfarçada. É o mercado usando a miséria como moeda.

Se a Uber quer continuar no Brasil, precisa respeitar seus colaboradores. Precisa ouvir quem está nas ruas.

A verdade é que a Uber fatura bilhões porque impõe condições de miséria a quem realmente faz o serviço.

E nós, como sociedade, não podemos mais fechar os olhos para isso.

O lucro às custas da precariedade é uma escolha. E pode, e deve, ser questionado. E combatido.

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